Pedro emagrecia,
Com as noites mal dormidas,
Fechava os olhos e lhe aparecia,
Uma caverna parricida.
Logo ele?
Ex-atleta, cuidadoso, assim envergonhado,
Olhos fechados, susto danado,
Sua boca encardida e fétida,
Filas de dentes,
Caçadores, coletores,
Amarelados, deteriorados,
Decompostos, desregrados,
Acordava num sobressalto,
Corria para o espelho, se acalmava,
Brilhavam lá seus dentes cultivados,
Frutos da genética, bem higienizados,
Quando se cerravam as cortinas, contudo,
Soprava o hálito da morte,
E de tanto repetir-se a cena,
Começou a duvidar do espelho,
E a examinar,
Tão minuciosamente,
E por tanto tempo,
Os próprios dentes,
Que finalmente viu,
Bem acordado,
Bem ali,
O mal, o tártaro, o noturno visitante,
Não o tártaro dos dentistas,
Sim o tártaro dos deuses,
Onde os fortes morrem esquecidos,
Onde as amizades esmaecem,
Onde habitam as esperanças cansadas,
Os amores que não vieram,
Os amores que já se foram,
A velha criança desenganada.
Refletia-se,
Chorava, ria,
Dava adeus,
Dava a pedro,
Esperavam-no,
Sem saber,
Com paixão,
Foi-se.
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