Os fantasmas, nos filmes, são pouco nítidos, mas na vida
real são idênticos a uma pessoa de verdade, só por dentro é que são turvos.
Foi-se o tempo em que precisavam ser alegóricos, como o homem de lata (O Mágico
de Oz), para que os aceitássemos.
Um fantasma é feito principalmente de força de vontade, ou, nas palavras do Agente Smith (Matrix Reloaded): “... Não há como fugir da razão, como negar o
propósito...pois, como ambos sabemos, sem propósito, não existiríamos. Foi o
propósito que nos criou. O propósito nos conecta. Ele nos impele. Nos guia. Nos
motiva. O propósito nos define. O propósito nos une. … “
Fantasmas são assustadores! Quem iria querer topar com um
deles, certo? Errado. Tal como os vampiros, fantasmas são sedutores, charmosos,
atraentes, poderosos e na maior parte das vezes, bem vestidos. Ou seja, nós é
que vamos ao encontro deles, e nos podem dizer: Vieste por tua vontade.
Ele precisa manter vivo o propósito, mas ao alcançar suas
metas, ele que consegue tocar as pessoas mas não pode ser tocado, tampouco sacia-se com o
prazer que com suavidade ou violência extrai de suas vítimas. Suas metas são para ele o que o
sangue é para os vampiros, e a força de vontade é a sua sede.
Ele alcança os objetivos aos quais se propõe, porque cada um
deles constitui a metáfora de sua sobrevivência. Como alguém mergulhado em
águas profundas, sente que se expirasse – abrindo mão do controle e deixando
que os outros e o mundo sejam a seu modo – não poderia mais respirar, e num
instante passaria da sobrevivência em risco a uma agonia aterradora. Não, ele
não pode deixar isso acontecer, precisa
vencer sempre. Por isso, faz de tudo e faz sempre melhor que os outros.
Demora-se para descobrir que alguém é um fantasma. Ele mesmo
costuma ser um dos últimos a saber. Mas quando se percebe assim, um espectro
sem vida, é assustador. E pode ser que lhe surja o desejo de ser uma pessoa de
verdade. E aí ele finalmente descobre um limite, um desafio que o amedronta,
pois uma das coisas que um fantasma não deve fazer é tentar deixar de ser um
morto-vivo, pois a dor de uma vida plena pode matá-lo.
Para tentar de verdade, para ser, precisará amar, e isso não
se alcança com força de vontade, e sim com a tímida coragem de quem tem tudo a
perder e se arrisca assim mesmo. Não mais envolvido pela solidão e protegido por sua beleza de porcelana, o amor o fará sentir o calor do sol percorrer o seu corpo
agora humano.
Enfim, um corpo de carne e sangue, mortal, e um belo coração,
não mais invencíveis pela força de vontade, que o sustentava pairando no ar - tal qual anjo
decaído que não quer decair totalmente.
E como mortal, finalmente será ferido, e morrerá.
E a ironia trágica de ter vivido como um morto – dentre esses
tantos sonâmbulos que andam por aí fingindo ser - não será mais relevante,
pois, enquanto os outros reclamam, ele
poderá encontrar paz na dor de morrer como um vivo, um pouco a cada dia, sem antecipar as coisas.
Fantasmas são assustadores! Certo? Errado!
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