quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

A criança envenena o velho.

Anatole queria ser engenheiro,
Rebeca queria ser médica,
Domenico queria ser empresário,
Jadirson queria ser arqueólogo,

Eu queria ser.
Mas eu não era?
Desisti de ser,
Decidi que eu queria ter.

Anatole queria ter uma mulher-princesa,
Rebeca queria ter uma casa na praia,
Domenico queria ter um carro conversível,
Jadirson queria ter uma biblioteca.

Eu queria ter.
Mas eu tinha.
Desisti de ter.
Decidi que eu queria entender.

Anatole agora queria entender porque sua mulher não o entendia,
Rebeca queria entender porque sua casa não era um lar,
Domenico queria entender porque seu conversível não o levava aonde ele mais precisa ir,
Jadirson queria entender porque que o conhecimento dos livros serve e não serve ao mesmo tempo.

Eu queria entender.
Mas não entendia.
Desisti de entender.
Decidi que queria esquecer.

Anatole queria esquecer que os corações sangram bem mais sangue do que há no corpo,
Rebeca queria esquecer quem a esqueceu,
Domenico queria esquecer que os seus bens eram agora os seus senhores,
Jadirson queria esquecer que o passado esquecido é destino.

Eu queria esquecer...
Consciência.
Ecoam fantasmas dos quentes sonhos sonoros,
Da criança que envenena o velho,
Que não é, 
Que não tem, 
Que não entendeu,
Que não esqueceu.

Um comentário:

  1. Aureo,
    Acredito que a ideia central do texto consiste nos erros cometidos ao longo das nossas vidas, quando escolhemos os valores que devem norteá-las. Cada um obtém como resultado a consequencia dessas escolhas.
    Assim, quando se prefere o ter ao ser, deve-se assumir o preço dessa decisão. Os sonhos idealizados deixam de ser a motivação da vida... A vida sem sonhos é vazia, por isso a criança envenena o velho. Nada somos, se nada desejamos com intensidade e de verdade no campo do ser. Se preferirmos o ter ao ser, realmente não seremos nada.

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