Eu sei quem você é.
Nós mal nos conhecemos.
Eu sou boa em adivinhação, intuição e em juntar peças desconexas quaisquer sobre a vida dos homens em geral. Mais alguns minutos de conversa e perguntas e eu poderei traçar um perfil completo de você.
Interessante... mas eu prefiro deflorar-te!
O que você está falando, seu canalha vulgar? Eu vou embora!
Fique aqui (ele a segura pelo braço), eu só posso e só vou deflorar a tua mente.
(silêncio e suspense angustiantes)
Eu não suporto o silêncio.
Ele é necessário. E agora que se acaba, vejo que em teu caso ele será quebrado de modo particularmente doloroso.
Estou ouvindo... (olhar desafiador)
Deflorar é tirar a flor. As pessoas comuns acham que trata-se de tirar a virgindade, romper o hímen. Mas como sabes, esta flor não te posso tirar novamente. Eu falo em deflorar a parte mais bela e intocada de tua mente: como julgas o mundo, e por reflexo, o que pensas de ti mesma.
(tristeza)
Aqui na rua? As pessoas estão olhando. Não faça isso, por favor.
É uma violência necessária a tua vida, pois estás a desperdiçando vergonhosamente, não preciso de tua autorização. Além disso, não te preocupes, eu já tive a minha vez, e por isso posso fazer isso por ti.
Levanta a saia dos teus preconceitos.
(ela, relutante, levanta)
Desabotoa a blusa de teus auto-enganos.
(seus dedos tocam os botões e hesitam; ele a ajuda)
Tira o sutiã de tuas ideologias.
Não (,) pára, eu não suporto mais isso. Tem que ser assim?
Tem que ser assim.
Baixa a calcinha de teus moralismos.
Eu não quero mais ouvir isso!
(se debate)
Estou quase acabando...
(Ela chora, enquanto as suas decisões anteriores, tão parecidas umas com as outras, alinham-se para uma última fotografia de despedida que faz sua mente latejar)
O que você fez comigo?
Perceba.
(ela primeiro desvia o olhar, mas quando olha, mal se reconhece.)
Que é essa doce e intensa presença?
Acabamos. Veja como você está linda. Melhor, veja como VOCÊ É LINDA, PERFEITA!
(ela respira profunda)
Como te sentes sem a castidade mental com a qual impedias a ti própria o gozo dos teus infinitos, especiais e únicos potenciais?
Estranha, como se estivesse nua, mas não é ruim como eu imaginava. Estou bem...
Estás livre. Segue agora para uma vida intensa, porque os teus anos têm andado apressados. Já sabes o principal, que a beleza de tua mente não está em sua virgindade.
Posso ir contigo?
Dessa vez não.
Obrigada assim mesmo.
Esse texto foi desenvolvido a partir do texto original 'Deflorando mentes' de 2008 do mesmo autor.
Pode o homem, um ser inteligente e perpicaz, cativar alguém pelo dom das palavras e pela sutileza do momento?
ResponderExcluirPode o homem transformar pequenos momentos em grandes e ainda assim deixar pensamentos sobrevoantes no coração de alguém?
Pode, sim o homem tudo pode e é a sua grande inteligência que o conduz..
Lindo texto, Aureo...
Obrigada assim mesmo!!
Também agradeço o elogio...
ResponderExcluirTexto maravilhoso. Acredito que o homem pode sim não só cativar, mas ser amado por sua inteligência, delicadeza e sensibilidade. Pode reacender a chama da paixão há muito apagada no coração de uma mulher. Pode despertar desejos sem saber ....
ResponderExcluirExcelente Aureo! Agradeço por compartilhar este texto.
ResponderExcluirSe os homens pudessem dimensionar o poder que sua sensibilidade e delicadeza são capazes de despertar em uma mulher, com certeza, permitiriam-se mais.
Talvez a beleza desse texto, aos olhos da mulher, devesse centrar-se na parte em que ele diz "estas livre. Segue agora para uma vida intensa.."...enquanto a mulher aguardar o homem sensivel para desvendar sua beleza e seus desejos, estará fadada ao fracasso. É de si, e jamais do outro, que deve esperar a apreciação. É o que mostra o texto, o protagonismo que a mulher precisa dar a si própria para viver plenamente sua beleza (que não mora nos olhares alheios!!!!!)
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