quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

A unha não perdoa os equilibristas.


Cuidado com a unha encarnada em meu fura-bolo,
Ela comanda um sobe e desce para que venhas ao mundo meu.
E o largo gesto de meu braço para que te vás, de vez, ao mundo teu?
Ela o comanda.

Esta terrível unha encravada, endiabrou-se de vez e agora,
Risca o ar ensandecida, maldizendo ao equilibrista de vocação:
Idiota, puta que pariu, saia da porra de cima deste muro,
Antes que em ti eu me crave - generosa em veneno,

Laboriosa e criadora de purulenta ferida,
A causar pútrida chaga em tua leitosa consciência hipócrita e presunçosa,
E antes que o dia se acabe,
Trace no céu uma vertiginosa Linha Final ao destino enfadado,

Da tua alma e coração, depostos e encarcerados,
Neste jardim mal-cuidado de lembranças,
No qual prezas protegê-los para que ninguém os tome,
Como se alguém pudesse querer relíquias tão sem graça,

Bêbado equilibrista condenado como Sísifo a repetir-se eternamente,
Vagando por sobre o muro que separa teu jardim e teu deserto,
Sepulcral deserto onde florescem, frutificam e desabrocham,
Tuas mirabolantes espécies proprietárias de princípios morais, de honra e de pureza,

Lugar triste e nublado, onde vagam almas e fantasmas,
Assombrando uns aos outros num jogo pueril,
Onde não se concebem lágrimas ou gargalhadas,
Que rompam o solo seco do teu coração,

Subsolo de águas-mortas-vivas que se recusam a correr,
Que lentamente apodrecem a vida,
Deste cadáver que é preciso disfarçar o cheiro,
Desta promessa aos pais que é preciso abandonar.

....................

Não importa.

Mesmo nos cadáveres, as flores crescem,
E a cada dia, uma nova escolha:
Se você tomar a pílula vermelha, a história continua.
Se você tomar a pílula azul, o muro desaparece.


(Este texto é a nova versão do texto "Ei tu aí, senhor(a) de si!")

3 comentários:

  1. Aureo

    Seremos sempre punidos com a mesmice, com o sentido heterônomo se continuarmos agindo da mesma forma. Fica o alerta para a compreensão sobre a liberdade e a responsabilidade humana com relação à sua vida, ao seu mundo e aos outros.
    Na maioria das vezes, o muro é uma situação bastante confortável,né?
    Ainda bem que temos a pílula azul.... Tudo é uma questão de escolha e coragem!

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  2. Mesmo nos cadáveres, as flores crescem.
    E a beleza está em tantos lugares.(e as flores são tão belas!)
    Pílula vermelha ou pílula azul,
    e as flores seguirão nascendo, no cadáver, no deserto, no jardim mal-cuidado.
    Flores prescindem de aparências; a beleza que nasceu nelas irradia em todo terreno onde elas se enraízam.
    Deve ser por isso que um jardim, mal-cuidado que seja, segue perfumando a alma de quem quer que o atravesse...

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    1. Dê-me o quente ou o gélido, mas nunca o morno, porque este não ama e não odeia, e ao final, não vive. Aquele que não afaga nem apedreja não tem em si um coração que bate. A vida não perdoa os equilibristas.

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