domingo, 5 de dezembro de 2010

(Sobre o silêncio): shhh!

Havia numa pequena aldeia esquecida entre as montanhas um confeiteiro mestre. Passou a vida fazendo bolos e doces. Com o tempo não via mais graça em fazer sempre os mesmos e começou a inventar. Os primeiros foram os bombons de chocolate com ar comprimido que – buff – acabavam explodindo no ar, deixando nele um delicioso cheiro de chocolate e alguma erva especial que lhe era misturada. E daí seguiram-se muitos outros.

Também havia nesta aldeia um padre muito zeloso de seu ofício. Estudava muito a bíblia e se empenhava de corpo e alma na pregação de cada sermão que fazia. Tinha porém o terrível hábito de fazer questão de saber se os fiéis realmente tinham sido arrebatados pela palavra divina vinda através de sua boca. Usava um bom critério: o tempo que as pessoas demoravam para voltar a conversar animada e frivolamente após o sermão e o fim do culto. Depois comparava com a impressão que outras atividades causavam.

Excluiu logo de início o sexo, não porque o achasse sem importância, mas porque não via como pesquisá-lo sem sujar-se daqueles que o praticam como que religiosamente.
Quadros bem pintados por exemplo, costumavam gerar o mesmo tempo de enlevo calado que um sermão mediano. O que não fazia sentido era que os melhores sermões perdessem sempre para os doces do confeiteiro.

Sabendo o padre que aquele os preparava no mais absoluto silêncio, chegou a pensar se era obra demoníaca que se ocultava ou se simplesmente aquele silêncio prazeroso que se seguia ao comer não era causado na alma, mas por algum ingrediente qualquer que lhe imitava os efeitos muito perfeitamente.


Um dia chega à aldeia um viajante e escreve a resposta aos questionamentos do padre; e esse, ao ler, se liberta.

Agora, escreve abaixo o que pensas que escreveu o estrangeiro, sim, tu mesmo leitor, escreve!

Um comentário:

  1. É no silêncio do que se faz com o verdadeiro amor,que uma obra prima(seja ela de qual natureza for), nasce e se aprimora!

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